segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Propaganda federal cresce 107% em dezembro

Por Miguel do Rosário, no blog Cafezinho:

No Tijolaço, blog do companheiro Fernando Brito, leio um post intitulado "O ano em que acabará o sonho de Temer". No texto, Brito comenta artigos de Elio Gaspari, Miriam Leitão e Luis Veríssimo.

É emblemático que, em 2017, mais de trinta anos à frente de 1984, o ano em que George Orwell ambientou sua obra apocalíptica sobre um mundo dominado por um Big Brother que tudo via e tudo sabia, estejamos ainda rodando em volta da grande mídia, cujo poder de manipular a opinião pública nacional é maior do que qualquer escritor de ficção científica já tenha concebido.

A nova (e velha) estratégia da mídia, por exemplo, é brincar de Fora Temer. Todo mundo cai como um patinho.

O cartel midiático faz pose, brinca, ri, fala alto. Seus colunistas, experientes, sabem que tudo é um jogo. Enquanto Elio Gaspari tira um sarro do governo em artigo que a maioria da população não vai ler, o Fantástico e as capas do Globo mostram um governo triunfante, "modernizando" a legislação trabalhista através de uma reforma que nos catapultará cem anos para trás.

Num dia, a mídia critica o governo, geralmente por ninharias, no outro prepara a mais chapa-branca entrevista já realizada na história da imprensa mundial, digna de fazer corar os mais submissos e amedrontados repórteres da Coréia do Norte. Refiro-me aqui ao incrível episódio da entrevista no Roda Viva, em que a pergunta mais difícil do enviado da Globo, Ricardo Noblat, foi "como o senhor presidente conheceu sua esposa?"

O consórcio golpista cozinha o governo com malandragem.

O TSE prepara o bote da cassação em 2017, mas isso não faz mais diferença, porque o poder não está em mãos do presidente Temer, como bem mostram seus nervosos recuos a cada vez que o Globo solta um editorial.

A esta altura, a ação do TSE tem a função de afirmar o poder das castas sobre o voto livre, secreto e universal dos brasileiros.

O poder transferiu-se para quem sempre, na verdade, o deteve, mas que tinha de dividi-lo às vezes com alguns espasmos democráticos de setores do governo. Transferiu-se para: rentistas, cujos juros continuam a ser pagos religiosamente pelo Tesouro, independente da falência generalizada de empresas, prefeituras, estados e União; castas burocráticas, que ganham os maiores salários do mundo, num dos países com pior distribuição de renda do planeta; e barões da mídia, que apesar de nunca terem ganhado tanto dinheiro do governo como agora, continuam demitindo jornalistas, repetindo a velha tática de aterrorizar os funcionários para mantê-los totalmente submissos à escravidão ideológica que impõem nas redações.

A tabela abaixo, com números compilados e organizados com exclusividade pelo blogueiro, com base em dados públicos da Secom, mostra que o trem da alegria continua rodando a todo vapor.


O artigo de Gaspari mencionado no início do post termina com uma tirada que, vindo de que vem, está carregada de extraordinária hipocrisia:


A menção à Coreia do Norte dá ao lendário cinismo de Gaspari uma nuance caricatural, visto que o regime golpista ultraneoliberal imposto pelo governo Temer, não poderia ser mais diferente do pesadelo totalitário-comunista da Coréia do Norte. Mas isso não vem ao caso.

O fato, porém, é que as tais "louvações publicitárias" ao governo, pagas com os "impostos dos outros", pagam o salário de Elio Gaspari. A propaganda federal do governo na Folha (sem contar as estatais, que gastam muito mais!) cresceu 84% em 2016, na comparação com o ano anterior.

Segundo o Banco Central, o deficit primário acumulado do setor público consolidado alcançou R$85,1 bilhões de janeiro a novembro, ante deficit de R$39,5 bilhões no mesmo período de 2015.

Ou seja, na contramão da queda brutal de receita provocada pelo golpe, na contramão dos cortes abruptos dos investimentos em pesquisa, em tecnologia, em infra-estrutura, em educação e saúde, na contramão do discurso de austeridade que já começou a entregar (ironicamente: para estatais estrangeiras) o patrimônio público, na contramão do discurso que prega o corte brutal das aposentadorias, na contramão de tudo isso, governo aumentou os gastos com propaganda federal (sem contar as estatais, não esqueçam!) em mais de 106% em dezembro, na comparação com o ano anterior.

No ano inteiro, o aumento dos gastos federais com propaganda foi de 27%.

Para as revistas Veja e Caras, que tem o mesmo dono, o governo aumentou as verbas publicitárias em quase 400%.

Repare que quanto mais cai a popularidade do governo Temer, mais o seu grupo de "comunicação estratégica" decide jogar dinheiro na grande mídia.

Por isso, toda essa movimentação em torno do Temer, esse cai não cai, esse morde e assopra não passa de um joguinho para engambelar a opinião pública enquanto os golpistas saqueiam despudoradamente os cofres públicos.

Em dezembro, no mesmo mês em que deu o prêmio de Homem do Ano para o presidente Michel Temer, a revista Isoé recebeu o maior pagamento em dinheiro, pago de uma só vez, que já recebeu de um governo, em muitos anos.

No ano, a Istoé (editora Três), recebeu R$ 386 mil (sem contar as estatais!), o que representou um singelo aumento de 850% sobre o ano anterior.

Não se preocupem, porém. Depois de receber uma soma recorde de verba federal em 2016, a Veja termina o ano com uma capa na qual diz que... o governo apostará na beleza da primeira dama para tirar o Brasil do buraco.

Luis XVI era muito burro. Se tivesse exibido mais Maria Antonieta, talvez o povo engolisse a fome, a miséria, a opressão, e não teria havido revolução francesa.

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