sábado, 11 de março de 2017

Após jantar com Temer, Renan ataca

Por Tereza Cruvinel, em seu blog:

Depois de jantar com Michel Temer, o líder do PMDB na casa, Renan Calheiros, segue insatisfeito com o governo e aprofundou suas críticas às reformas em conversa com o 247. Já tendo criticado o “exagero” da reforma previdenciária, ele atacou também a reforma trabalhista: “Vamos aprovar as reformas mas vamos qualificá-las. Na trabalhista, a CLT não pode ser culpada pela falta de produtividade da economia brasileira, que tem muitas outras causas. Não podemos precarizar as relações trabalhistas a um ponto tal, permitindo que o mercado passe o trator sobre os direitos e garantias erigidos com uma grande contribuição do PMDB. Uma coisa é o governo, outra coisa é o PMDB”, disse Renan.

A disputa entre o PMDB do Senado e o da Câmara são o pano de fundo das críticas recentes de Renan e foram servidas pelo ex-presidente do Senado a Temer no jantar. Ele diz ter repetido para o presidente sua avaliação de que o ex-deputado Eduardo Cunha, de sua prisão em Curitiba, vem exercendo influência crescente sobre o governo, a exemplo da recentes indicações, por Temer, de seus aliados para postos de comando no Congresso.

- É tudo muito óbvio e eu apenas apontei os sinais e os significados daquela movimentação que foi feita enquanto o Congresso estava desmobilizado pela pausa do carnaval. Cunha chamou o Marun a Curitiba e logo tivemos os resultados. Serraglio no Ministério da Justiça, Marun como presidente da comissão da reforma previdenciária, Athur Lyra como relator, Agnaldo Ribeiro na liderança do governo na Câmara e o inacreditável André Moura como líder no Congresso. Cunha tomou conta de tudo. Fiz estas avaliações para o presidente”.

E como Temer respondeu à grave acusação de que Cunha, da cadeia, vem exercendo influência no governo? Neste ponto Renan é evasivo: “Ele ouviu e fez algumas ponderações”.

Na tarde desta quinta-feira, em entrevistas ao programa "Moreno no Radio", na CBN, Temer negou a influência de Cunha e minimizou o conflito com Renan, dizendo: "Não, absolutamente não existe (influência de Cunha). E com o senador Renan eu tenho dialogado permanentemente, tenho certeza de que nós vamos continuar dialogando. Ele vai continuar nos ajudando, preocupado que é com o país, e sabe a importância das reformas. Portanto eu tenho absoluta convicção de que ele vai nos ajudar. Evidentemente, essas afirmações não têm sustentação, não é? Imagine se o Eduardo Cunha, que está, enfim, distante, não é, pode influenciar alguma coisa aqui. Não há influência nenhuma".

Sem relatar o que ouviu de Temer, Renan volta ao conflito interno no PMDB:

- Estão rebaixando o PMDB. Agora vieram com esta carta pedindo que Eunício, Jucá e Moreira Franco sejam afastados do comando partidário porque são investigados na Lava Jato. Como eu já disse, querem controlar o governo e também o partido. Mas o PMDB não é o governo e verão isso.

Voltando às reformas, Renan reitera a avaliação de que a previdenciária exagera em algumas medidas, como o tempo mínimo de contribuição de 25 anos e a transição abrupta para a aposentadoria aos 65 anos para homens e mulheres. “Quem conhece o Brasil profundo, e sobretudo o Nordeste, sabe que é não razoável exigir 49 anos de contribuição para a aposentadoria integral”. A reforma previdenciária, diz ele, “não pode ser feita para resolver problema de caixa mas sim para tornar o sistema mais sustentável”.

Críticas à reforma trabalhista ele ainda não havia feito são novidade. “Da forma como está proposta, acabamos com a CLT, fazendo com que os acordos prevaleçam sobre tudo que já foi legislado em matéria trabalhista. A legislação trabalhista precisa ser atualizada para reduzir a insegurança, com alguns ajustes, com a regularização das terceirizações e outras medidas. Mas não rasgando a CLT , que como tenho dito, não pode ser culpada pela baixa produtividade da economia brasileira, que é derivada também de outros fatores, como o sistema tributário irracional, os juros altos, a ausência de política industrial e tantos outros. ”

Se o PMDB do Senado compartilha de suas avaliações, então as reformas não passarão por lá tal como estão propostas, contraponho. Ele recorda que o PMDB tem 22 dos 81 senadores, ou 28% dos votos na Casa, antecipando como se comportará.

- Eu me esforçarei para traduzir o pensamento médio da bancada mas tenho o direito de expressar minhas próprias opiniões. O Governo já sabe que as reformas terão ajustadas pelo Congresso, o relator da reforma previdenciária já admitiu isso. Elas serão aprovadas, mas nós vamos qualificá-las.

Diante disso, se Temer e Meirelles também sabem “ler sinais” na política, como recomenda Renan, deviam parar de dizer que se elas não forem aprovadas na íntegra o pais ficará insolvente como o Rio. Pois quebrado, já está. O mercado sabe ler sinais e já entendeu: as reformas serão aprovadas mas não como foram apresentadas. Para ficar na minha metáfora de ontem, tem muita tábua solta na pinguela Temer.

0 comentários: