segunda-feira, 5 de junho de 2017

"Centrão" de Cunha elegerá Rodrigo Maia?

Por Ricardo Kotscho, em seu blog:

"O que andou acontecendo enquanto estive fora?", perguntou Barack Obama, como se não soubesse de nada, a um grupo de jovens na Universidade de Chicago, em abril, no dia em que voltou de três meses de férias, depois de passar o cargo para Donald Trump.

No tempo em que as pessoas e as notícias viajavam de navio era comum isso acontecer, mas agora é impossível, infelizmente, não saber o que aconteceu na nossa ausência. Os fatos nos perseguem online em qualquer lugar.

Por aqui, aconteceu muita coisa na minha breve parada técnica, mas vejo que continua tudo no mesmo lugar.

Se houver eleição indireta no Congresso, aconteça o que acontecer, uma coisa é certa, basta fazer as contas: o provável sucessor de Michel Temer sairá do "centrão" de Eduardo Cunha, a bancada suprapartidária financiada pelo ex-presidente da Câmara em 2014.

Formada basicamente pelo chamado baixo clero, esta bancada conta com cerca de 70% dos 513 deputados federais, ou seja, a absolutíssima maioria do colégio eleitoral.

O Senado só tem 81 parlamentares, muito pouco para bancar um candidato. Por isso, nomes como o do senador Tasso Jereissatti e o do ex-ministro Nelson Jobim estão sumindo das bolsas de apostas.

Neste quadro, desponta cada vez mais como favorito numa possível sucessão presidencial o atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia, um ex-aliado que herdou os votos, a tropa de choque e os métodos do "centrão", quando Cunha foi afastado do cargo, cassado e depois preso e condenado pela Lava Jato em Curitiba.

Cunha perdeu tudo, menos o poder de influência na Câmara e em setores do governo. De dentro da prisão, continua dando cartas como grande cabo eleitoral e fiador de nomeações federais enquanto não faz a sua temida delação.

Mestre na política do toma lá dá cá, o ex-deputado carioca derrubou as barreiras entre público e privado para montar sua bancada particular.

Não chegou por acaso nem pela sua simpatia à presidência da Câmara, derrotando por goleada o candidato da então recém reeleita Dilma Rousseff.

"Este ano não tive dificuldades para captar. Até sobrou dinheiro na minha campanha", contou Cunha à Folha, logo após a eleição, em novembro de 2014.

Sobrou até para eleger dezenas de colegas de outros partidos e Estados que o acompanhariam na votação do impeachment e outras batalhas.

Esta facilidade que encontrou na captação de recursos ele mesmo explicou candidamente aos repórteres David Friedlander e Catia Seabra:

"Na maioria das vezes, são as empresas que me procuram. Até porque, tenho a mesma visão delas".

Na lista de doadores oficiais apresentada por Eduardo Cunha, que o financiaram com R$ 6,8 milhões naquela eleição, estavam os bancos Bradesco, BTG Pactual, Safra e Santander, e empresas como Vale, Ambev e Coca-Cola, uma boa parcela do PIB brasileiro. Ainda não tinha aparecido a JBS na história.

Também não se falava em Rodrigo Maia, um jovem e discreto líder do DEM, que havia concorrido à Prefeitura do Rio em 2012. Obteve apenas 3% dos votos numa chapa formada com a filha de Garotinho.

Quis o destino que neste breve período um fosse parar na cadeia e o outro possa acordar qualquer dia desses como presidente da República.

O que está ruim sempre pode piorar.

Pobre República.

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